Uma ultima risada.

Ao rigor, este texto, jamais deveria ser escrito, ao rigor eu deveria está morta. Assim começa minha história.

Março de 2001, eu estava voltando de Arraias-To e comecei a me sentir muito mal, por sinal sintomas bastante estranhos. Sede excessiva, fome exagerada, urinava muito. Quando cheguei aqui em Brasília, os sintomas se agravaram e eu comia muito e perdia muito peso, aí resolvi procurar um médico.
Depois de dias de consultas, recebi o diagnostico: Diabetes Mellitus. Na época eu tinha apenas 12 anos e para mim esse nome não me era conhecido, achava que era o nome de uma cidade de alguma princesa de conto de fadas, mas como eu estava enganada. Na verdade era o inicio de uma história de terror, mas com a diferença que com toda certeza teria um final feliz.
Como eu já disse, eu tinha apenas 12 anos e para mim era inaceitável conviver com aquela doença, eu me recusava á receber essa mais nova amiga em minha vida.
Com o passar do tempo, eu não parava de me perguntar quando eu tiraria o “grande cochilo”, pois aquela situação já estava me deixando exausta, mas eu mal sabia que aquilo era apenas o começo.

Todo mundo tentava me agradar, comida parecia ser um item bastante importante. Um dia comentei que havia sonhado com uma barra de chocolate gigante, no dia seguinte me trouxeram três barrinhas, sim eram diets.
Quando eu fiz 15 anos eu disse a mim mesma um dia: “15 anos é um caso de vida ou morte, eu escolho a vida”. E eu sempre me interrogava, o que eu estava fazendo aqui?Para aonde eu iria. A primeira resposta é narcisista, fui colocada nesse mundo para fazer as outras pessoas rirem e a segunda resposta nem eu sei, nem ninguém sabe.
Eu não tinha idéia o quanto estava sendo astuta com a minha resposta.

Durante toda vida, não achei que meu pâncreas nunca me daria problema. O pâncreas cumpre sua função de maneira discreta sem muita fanfarra. Ele é um órgão importantíssimo.Se você não concorda, eu aceito o seu, se você não quiser mais utilizá-lo.
Na época até minha mãe queria doar o dela para mim, mas o médico disse que seria impossível, ela morreria logo. Ao mesmo tempo seria estranho, eu ficar andando por aí com o pâncreas da minha mãe.

Eu não achava que meu pâncreas iria me decepcionar, considerando nosso longo relacionamento, mas na verdade ela foi se adoentando lentamente. Então me zanguei com eles, sério. Eu os tratava tão bem, e era assim que ele me agradecia?
Quando descobrir a doença, fiquei internada durante longos e intermináveis dezessete dias, os médicos ficavam perplexos com o resultado de meus exames, os resultados era absurdos, completamente péssimos, mas eu não sentia nada. Era para eu ter entrado em coma profundo.
Eu me transformei na garota propaganda do hospital, considerando como sou exibida, adorei aquilo.

Confesso que pensei em um assunto nada comum nesse longo período de convivência com a dona diabetes. Era algo engraçado e ao mesmo tempo esquisito: meu próprio funeral.O meu plano na verdade era muito simples, mas tinha muitos detalhes.
Certifico-me que deveria aparecer algo sobre minha morte no Jornal Correio Brasiliense. Ninguém sabe se você está vivo ou morto, se não ler sobre algo.
Gostaria também que nenhum artista ou deputado morresse no mesmo dia que eu. Não quero ninguém usando o espaço destinado a mim. E insisto não digam: “Morreu depois de lutar contra uma grave doença” eu preferiria algo assim: “Kate morreu depois de arrasar Ronaldinho Gaúcho em uma pelada em seu campinho particular”.

Meu velório seria uma cerimônia particular no Centro de Convenções Ulisses Guimarães. A esquadrilha da fumaça sobrevoaria o local, os associados da Marinha arriariam as velas dos barcos, á meio mastro, em todos os estádios teria um minuto de silêncio e Eric Clapton cantaria junto a minha lapide: Grandioso és tu.

Gostaria de ser cremada, e minhas cinzas deveria ser espalhada pela praça dos três poderes. Caixas de lenços, iriam ser distribuídos gratuitamente.

Na cerimônia o Pastor falaria algumas palavras para tentar animar a multidão. Meu pai leria uma carta enviada pelo Presidente para minha família e mamãe leria uma do Governador.Depois de nove anos com minha companheira Diabetes , descubro que não vou para o céu por agora.
Não sei quanto tempo viverei, mas sei que aprendi muito nesse tempo todo.

A moral da história é a seguinte: NUNCA CONFIE EM SEU PÂNCREAS.

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